«Be free from fear; be fearless»

Quando começa a semana de trabalho, não há grandes novidades para contar. Começo a entrar na rotina casa - trabalho, trabalho - casa. A viagem para a embaixada de manhã é tida como os meus 15min de reflexão matinal. Logo após conseguir um rickshaw, sento-me e lá vamos nós: eu, o condutor e os meus pensamentos. 

A hora de almoço é feita com os colegas indianos e as suas refeições super picantes. Convidam-me várias vezes a experimentar a sua comida, ao que eu respondo que é demasiado spicy para mim. Eles dizem que "este e aquele não são, pode experimentar". Pois bem, experimento e, apesar de não ser picante para eles, para mim é muito! Mas aos poucos, ça marche.

Como se costuma dizer, nada acontece por acaso. O facto de ter ficado a primeira noite naquela casa horrível fez com que viesse parar onde estou actualmente: Defence Colony (ou French Colony, uma vez que, por aqui, eles multiplicam-se). Ainda que temporariamente (3 semanas), ter vindo para aqui permitiu-me conhecer pessoas fantásticas que, certamente, acompanhar-me-ão nesta minha jornada de 6 meses pela Índia.

Neste momento estou a viver numa casa com mais dois franceses: um que trabalha na embaixada da França  - o Kav - e outro que está a começar a sua primeira colecção de roupa - o Cameron. O ambiente é bastante agradável e fartamo-nos de conversar.

Hoje perguntaram-me, algures no Facebook: "aí se matares uma vaca tambem tens de as pagar?" Rapidamente questionei o Sandip, que trabalha na embaixada de Portugal, ao que ele me respondeu que se  for um acto intencional - e algum hindu estiver a ver - teremos problemas, pois este irá chamar a polícia. Se, caso contrário, não for propositado, à partida não acontece nada. Confesso que nunca tinha pensado nisso...

Para acabar o dia, vi um filme com o Cameron que aconselho vivamente: "OMG: Oh My God!". Independentemente do que quer que acreditemos, «be free from fear; be fearless». ;)

Sarojini + Qutub Minar

Sarojini Nagar Market foi o destino de ontem à tarde. Podemos encontrar lá mil e uma coisas ao preço da chuva. Roupa, pulseiras, malas, sapatos, brinquedos, óculos... Mais uma feira como as de Portugal, mas com preços mais baixos - é de uma pessoa se perder com tanta oferta.

Bebi um sumo de mosambi bem bom e fresquinho pela módica quantia de: 30 INR = 0,40€.

  

Hoje fomos visitar Qutub Minar (Torre Qutub), um dos monumentos mais altos da Índia: tem 72,5 metros de altura. Foi construído em 1192, pelo Qutbud-Din Aibak para celebrar a vitória de Muhammad Ghori (um rei afegão do séc. XII) sobre os Rajputs (povo de Rajasthan - um estado do norte da Índia). Em 1993 foi declarado património mundial da UNESCO. Em redor da torre existem várias ruínas, entre elas de túmulos e mesquitas. Aqui, tive uma experiência pela qual nunca imaginei passar: montes de indianos a pedirem para tirarem uma fotografia com uma "european girl". Confesso que se tornou incómodo...

  

Depois desta visita tentámos ir até ao Lotus Temple, mas tinha uma fila tão grande que decidimos que voltaríamos noutro dia. Desta forma, voltei ao Lajpat Nagar Market (mais um dos mercados tipo feira), bebi mais um sumo natural, desta vez de ananás, e depois fomos até casa: que bem que soube poder descansar e beber um chá quentinho.

E amanhã (já!) recomeça uma semana de estágio: o tempo voa! ;)

O saber não ocupa lugar

Num destes dias, numa conversa com o meu coordenador de estágio, soube que há um funcionário da embaixada que tem uma religião um pouco comum na Índia: o sikhismo. Sei que ao pé da casa onde estou a viver, existe uma mesquita desta religião e todos os dias lá se encontram eles de volta da sua oração.

O sikhismo foi fundado no Punjab, uma região no norte da Índia, e é um misto entre hinduísmo e islamismo. Uma particularidade dos sikhs é que estes rejeitam o sistema de castas presente na Índia (sendo este sistema também rejeitado pela Constituição Indiana de 1950, embora seja ainda uma realidade na sociedade). Os homens não podem (nunca!) cortar o cabelo ou a barba, segurando o cabelo com um turbante; ao passo que as mulheres utilizam um lenço. Os que cortarem o cabelo ou a barba são considerados renegados.

Indira Gandhi (1917-1984), cujo nome serve de referência ao aeroporto de Nova Deli, foi assassinada por um sikh extremista. Foi primeira-ministra da Índia (1966-1977; 1980-1984), e a primeira mulher a ocupar o lugar de chefe de estado na Índia. Depois da sua derrota ao governo em 1977, houve uma forte quebra nas relações entre os hindus e os sikhs, havendo um líder sikh que ganhava cada vez mais popularidade ao afirmar que a sua comunidade era soberana e tinha capacidade de auto-governação. Em 1980, quando Indira voltou ao governo, desmantelou Akali Dal, o partido Sikh, e sediou o governo em Punjab. Temendo o apoio do Paquistão ao movimento Sikh, em Junho de 1984 Gandhi ordenou um assalto militar – Operação Estrela Azul – ao “Templo Dourado”, um santuário sagrado em Amritsar, o mais importante templo dos Sikh. Gandhi deu ordem ao Exército para invadir este santuário mas os seus ocupantes recusaram-se a sair. Desta luta resultaram várias mortes, incluindo líderes, além de numerosos feridos. Esta invasão e destruição do templo teve como consequência o assassinato de Indira Gandhi, em 31 de Outubro de 1984, por parte dos seus dois guarda-costas, que eram Sikh.

Deixo o link da biografia dela para quem estiver interessado, apenas decidi expor a parte que me foi sucintamente explicada e porque o saber não ocupa lugar.

Dia de greve na Índia

Hoje foi complicado ir para o trabalho de manhã. Meia hora na rua e quase nenhum rickshaw passou, e os poucos existentes pediam "montantes exorbitantes", pelo que fui de táxi. A meio do caminho, para continuar a boa manhã, o táxi fica sem gasolina! No meio de uma grande avenida, mesmo atrás do semáforo que muda para verde, lá estávamos nós. No meio disto tudo acabei por ter uma ponta de sorte, uma vez que o táxi "atracou" mesmo ao pé de um sítio com mais táxis (...e onde havia pessoas a "tomar banho" na rua). Fui para a embaixada num carro super moderno - parecia uma verdadeira diplomata. E, melhor ainda e no meio destas trocas todas, acabei por pagar o que tinha negociado com o taxista inicial: 200 INR = 2,80€.

2013/02/15 - Autorickshaw

Cheguei ao trabalho e percebi que todo o meu atraso e toda a falta de rickshaws se deveu a uma greve de trabalhadores, que reivindicavam salários mais elevados e melhores condições laborais (é estranho, mas não esqueçamos que estamos num país democrático, e a greve é um direito que têm - ao menos que se sirvam dele em prol de um futuro melhor). Amanhã, pelo menos, já sei com o que conto.

Normalmente vou para o trabalho pela Bhishm Pitamah Marg, uma estrada que passa mesmo ao lado do Estádio Jawaharlal Nehru. Tem o nome do primeiro primeiro-ministro da Índia e foi construído em 1982 para os Jogos Asiáticos. Foi, posteriormente, remodelado para os Jogos da Commonwealth de 2010, que se realizaram em Deli - com esta remodelação, o estádio passou de uma capacidade de 78 000 espectadores, para 60 000, sendo que inicialmente era de 100 000.

Também neste estádio vão realizar-se os Jogos Sul-Asiáticos, que estavam planeados para este mês, mas penso que só serão realizados em Setembro.

Para finalizar o dia, fui jantar a Defence Colony Market com uns colegas franceses. Aproveitei para comer uma saladinha - já tinha saudades de alface!! - e, entre as várias músicas ambientes que o restaurante tinha, houve uma que me chamou a atenção: fado! É verdade, passaram uma música bem portuguesa num restaurante em Nova Deli!! It made my day... :)

Mais um dia em Nova Deli

Hoje fui para o trabalho por um caminho diferente do usual. Desta vez o rickshaw atravessou o coração de um mercado indiano: mil vacas, mil frutas de diferentes cores, pessoas até mais não, cheiros horríveis, lixo, lixo e mais lixo. Tudo isto em solo de terra batida (molhada, por causa da chuva do fim-de-semana). 

O dia de trabalho foi calminho. Contudo, consegue aborrecer-me o facto de entre alguns telefonemas que faço para empresas, eles não perceberem inglês e desligarem o telefone na cara.

Almocei pela embaixada, com os meus colegas indianos, e tive oportunidade de experimentar um vegetal diferente (não me recordo do nome). Diziam eles que não era nada picante... Foi logo um copo de água!! Para fechar a refeição, um pedaço de goiaba comida ao natural, not bad. ;)

Ao fim do dia, e porque precisava de fazer pequenas compras, fui até a um dos mercados de Lajpat Nagar com o meu colega de casa, Cameron. Este "bairro" está dividido em quatro partes, e cada parte tem o seu mercado. Este, que acabei por descobrir que era de roupas e afins (nada do que eu precisava, portanto), parecia a feira! Barracas e mais barracas de roupa, pulseiras, sapatos. Ao longo das ruas, carroças onde as pessoas preparam "fast food" para vender: batatas fritas (descascada por eles e feitas em grandes pratos fundos com óleo); maçarocas de milho; uma espécie de pão frito; etc.

Numa das ruas transversais ao mercado, voltamos aos tempos antigos: indianos a costurar nas máquinas de costura antigas, cada um em frente à sua porta.

Ainda neste mercado, existem lojas também mais caras, mas todas elas estão protegidas por um segurança que carrega uma espingarda - nunca se sabe!!

Também bebi um sumo natural de frutas óptimo, que me custou 40 INR =  0,55€. Já sei qual vai ser a minha bebida nos dias mais quentes. :))

A caminho de casa, e porque já estávamos cansados de tanto andar, decidimos ir num rickshaw, mas este com a bicicleta à frente e o indiano a pedalar. Muitos mais desconfortável do que aquele que tem a motinha a puxar, devo dizer. 

Arrisco também dizer que a Índia, ou pelo menos Nova Deli, não é o que as pessoas pensam. De um modo geral, e pelo que vivi até agora, as pessoas são simpáticas e só se não soubermos lidar com elas é que temos problemas.

Fim-de-semana

Ontem, e porque estava a chover, fui com os meus colegas de casa até a um centro comercial: Select Citywalk. Ao contrário do que podia imaginar, tem o aspecto dos centros comerciais ocidentais, com a particularidade de que, para entrar, tem um controlo tipo aeroporto: passar as malas no “raio-x” e as pessoas pelos detectores de metais. Aproveitei para ir matar as saudades do Mc Donald’s (onde um menu normal + McFlurry = 3,40€)!

De seguida fomos até Connaught Place. A caminho, e para continuar a saga do “welcome to the jungle”, deparámo-nos com um camelo a circular na estrada, como se de um carro se tratasse! O que mais irei ver? This is incredible India :)

Como é hábito, quando parados no trânsito aparecem os sem-abrigo (desde crianças a velhos) a fazer o seu peditório. Ao que parece, não é permitido que eles toquem nas pessoas. Uma menina pequenina tocou-me no joelho em jeito de chamar a atenção (porque, mesmo que não queiramos, temos que ignorar quem quer que seja que venha pedir) e um dos meus colegas (que está extremamente à vontade em Deli) foi tão rude ao dizer “DON’T TOUCH HER” que não sei se fiquei mais chocada com a forma de ele falar, se com aquela cara super querida a pedir dinheiro. 

Já em Connaught Place, presenciei um misto entre extrema pobreza e classe média: desde lojas caras a pessoas paupérrimas a pedir na rua. Confesso que senti medo de andar por ali…

Hoje fomos até Lodhi Colony Market, um mercado onde se encontra um pouco de tudo - comida, roupa, sapatos, acessórios dos mais diversos tipos - tipo as feiras dos ciganos em Portugal. A caminho de lá vi… cabras (para acrescentar à lista de animais estranhos que se vêem no meio da rua)! E mais uma vaca (esta maior e um pouco mais gordinha). E ainda mais um casamento, onde as pessoas iam no meio da estrada, com tambores e cavalos e muita animação!

Para acabar bem o dia, depois de ir comprar bens alimentares, chego a casa e reparo que me faltava o bloco de notas... Primeiro pensamento: já foste!! Mas nunca é demais ir experimentar, pode ser que até tenham guardado... E o veredicto confirmou-se!! Guardaram o meu bloco!! Afinal até se pode confiar em alguns indianos. :)))

E amanhã recomeça o trabalho. :)

You gotta love India

Finalmente consegui dormir uma noite completa! Que diferença no estado de espírito… J

Sempre que acordo de manhã, oiço alguém a gritar (parece quase uma vuvuzela) e sempre me questionei o que seria aquilo. É um gritar tão sofredor que até parece que todos os dias está alguém a passar mal. Hoje consegui perceber que é um senhor que vende fruta pela rua! Com uma espécie de carroça a fazer de expositor, lá vai ele a ganhar os seus trocados pela rua fora.

A viagem para a embaixada logo ao romper do dia foi no clássico “rickshaw”, que me ficou na modéstia quantia de… 40 INR = 0,55€ (cerca de 9Km)! Mais uma vez, e para ter a certeza de que chegava bem acordada ao meu destino, não faltaram buzinadelas durante todo o percurso. À parte disso, dentro da confusão que é o trânsito em Nova Deli, existe uma organização tão particular que até se tornam interessantes todas estas viagens em transportes públicos – penso até que se tentassem, de certa forma, ordenar o trânsito, ía correr mal!

Hoje almocei comida indiana: chapati (o pão) + molhos (não sei os nomes deles mas um era de iogurte, outro com uns feijões pequenos, e outro very spicy!!). Confesso que não me satisfez por completo, mas pode ser que com o tempo a coisa pegue (até porque este almoço foi caríssimo!! 60 INR = 0,85€).

A caminho da embaixada, depois do almoço, vi a minha primeira vaca!! Magrinha e pequenina, lá ía ela a vaguear pelo passeio. E, como que em jeito de companhia, montes de macaquinhos na mesma avenida. Primeiro pensamento: welcome to the jungle!

Hoje fui jantar com franceses a Khan Market (onde existem montes de lojas e lojinhas) e ao vir para casa não podia ficar indiferente à enorme festa que se fazia com tambores e pessoas a cantar – eis um casamento indiano. Este era privado, mas diz que se encontrarmos um casamento público somos automaticamente convidados a entrar!

Amanhã é dia de passear pela cidade e conhecer um pouco mais desta nova realidade. ;)

1º Dia em Deli

Chegada a Nova Deli sem problemas de maior. Lá estava o Jeeva (motorista encarregue de me ir buscar) à minha espera e rapidamente nos fizemos à estrada. Aqui, seja noite, seja dia, as buzinadelas são a banda sonora para quem conduz. Buzina-se por tudo e por nada!

Ainda em Portugal, decidi que devia partir para a Índia com uma casa já escolhida: asneira! Quando dei por mim estava numa casa na qual me senti super desconfortável, para além de ser longe da embaixada. Talvez tenha sido todo o acumular do meu estado – cansada, ansiosa, expectante – mas o que é certo é que fiquei uma noite e vim embora (noite essa que me saiu a 3000INR = 40€! (chulos, não podem ver um estrangeiro é logo a roubar)).

De manhã lá foi o Jeeva buscar-me novamente para me deixar na embaixada, onde fiquei a conhecer os meus futuros colegas de trabalho - bem simpáticos, por sinal. ;) Almocei na embaixada dos EUA (que fina) com o meu coordenador, que tem sido bastante prestável e super atencioso para comigo. O dia de hoje, apesar da noite mal dormida, acabou por correr bem e consegui encontrar uma casa provisória onde me sinto confortável (apesar de ter tomado banho de água FRIA – faz bem aos ossos, dizem).

Já instalada e a precisar de fazer aquelas compras iniciais, a minha “senhoria” leva-me a um mercado aqui perto (de carro) uma vez que ela ía sair também. Quando estou a voltar para casa, dou por mim perdida! Nem acreditei… Lá perguntei a uma rapariga indiana onde era a casa C-162, o que me valeu um regresso a casa também de carro (para chegar à conclusão que estava a, sensivelmente, 30 metros de casa). 

Amanhã começa oficialmente o meu trabalho na embaixada, pelo que hoje é dia de deitar cedinho! 

Let's go to INDIA!

12 de Fevereiro! 

A data oficial da minha partida para uma nova aventura, desta vez para um sítio completamente diferente do que estou habituada. “Estás com medo?” Não! Estou sim com uma enorme vontade e curiosidade de chegar, ver, sentir, cheirar, tocar.

Finalmente vai passar o desassossego e a ansiedade de não saber quando vou; finalmente 1EUR = 71,807 INR irá fazer sentido; finalmente a preocupação com o tempo em Nova Deli irá fazer sentido. O poder contrastar toda a realidade ocidental com um país de 3º mundo, o experimentar novos sabores, novas culturas, novas religiões. Finalmente!

Até já, Nova Deli! ;)